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Líder do PRB diz que governo “ouve”, mas “não dá ouvidos” a aliados e população

Marcos Pereira conversa com Kaká Siqueira e Anderson França, na Super Rádio, em São Paulo
Marcos Pereira conversa com Kaká Siqueira e Anderson França, na Super Rádio, em São Paulo

Em entrevista aos radialistas Kaká Siqueira e Anderson França, na Super Rádio AM 1150, nesta manhã (16), em São Paulo, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, comentou sobre os protestos de domingo no Brasil e disse que o governo precisa passar a “dar ouvidos” ao que as ruas e os aliados estão dizendo, e não apenas “ouvir”. Para ele, há diferença entre uma atitude e outra.

“Nós (do PRB) queremos contribuir, entretanto a gente percebe que há um núcleo palaciano, que são aqueles que se encastelam, que se trancam no Palácio (do Planalto) e não ouvem pessoas que poderiam contribuir”. O líder republicano prosseguiu. “Temos percorrido o Brasil e conversado com os mais diferentes tipos de pessoas, então acho que poderíamos levar as críticas construtivas”.

Pereira disse que o governo federal “é um pouco avesso às críticas”. Ele acredita que é preciso fazer uma “autocrítica” e corrigir os erros cometidos, mas que a ausência desse reconhecimento torna mais difícil redirecionar os rumos do País. “Eu conversava com um ministro na semana passada. Ele dizia que a presidente (Dilma Rousseff) está ouvindo. Eu perguntei: ela está ouvindo, mas está dando ouvidos?”.

Em concordância com alguns analistas políticos, o presidente do PRB afirma que não há outra saída para essa crise sem precedentes senão o diálogo. “A dificuldade que a gente percebe é a falta de diálogo com o Congresso Nacional, com os empresários e com a própria sociedade. Eu diria que a presidente está isolada e cercada por meia dúzia de pessoas, e ouvindo só a essas pessoas”.

 

"Governo precisa fazer uma autocrítica", disse Pereira, em vista da crise política
“Governo precisa fazer uma autocrítica”, disse Pereira, em vista da crise política

Embora o PRB seja aliado do governo, com assento no Ministério do Esporte, Pereira invocou o falecido fundador do partido, ex-vice-presidente José Alencar, para justificar as críticas. “Mesmo sendo vice-presidente do Lula, Zé Alencar não deixava de criticar o governo, sobretudo os juros, que eram e ainda são exorbitantes, os mais altos nos últimos 10 anos”, lembrou.

A propósito da economia, Pereira defende que o ajuste nas contas precisa ser feito. Ele elogiou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao afirmar que é um técnico altamente capacitado, porém ressente que a falta de “ginga política” possa atrapalhar na relação com os 513 deputados federais e 81 senadores. “Foi o melhor nome disponível que aceitou essa empreitada. Mas ele não tem trânsito no Legislativo”.

O presidente do PRB acredita que a solução é a mudança na articulação política do governo, mas não será colocando “cinco, seis ou 13” nomes para essa função que vai resolver o problema. A crítica se dá no anúncio dos nomes dos ministros Gilberto Kassab (Cidades), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) como “articuladores” da Esplanada no parlamento.

“Quando mais gente coloca a mão, pior fica, porque ninguém é responsável por nada. É melhor você colocar uma pessoa eficiente, que tenha trânsito e saiba dialogar. A meu ver, o governo está um pouco perdido porque não ouve, sobretudo a voz da população”, diz Pereira. “Quando você acha que sabe tudo, tem a percepção que não precisa de contribuições”.

 

França, Kaká e Pereira ao final da entrevista, hoje pela manhã, em São Paulo
França, Kaká e Pereira ao final da entrevista, hoje pela manhã, em São Paulo

Sobre as demandas dos protestos, o líder do PRB entende que o cidadão brasileiro quer um comportamento diferente da classe política. Ele voltou a afirmar que existe uma disputa entre políticos vocacionados, que atendem a um chamado, dos políticos profissionais, que se refestelam do que é público para fins privados – e muitas vezes privilegiados.

“Quando alguém entra para a política para se servir do cargo que ele exerce, dá nisso que a gente está vendo (corrupção na Petrobras)”. Pereira ressalta, no entanto, que é preciso conduzir as investigações com cautela para não incorrer de condenar alguém antes da Justiça. Ele relembra o caso da Escola Base, de 1994, quando os donos da referida escola foram massacrados pela mídia, sem culpa.

“Temos que tomar cuidado. Indícios não são provas. Nem sempre acusações significam culpa. Eu escrevi um artigo num seminário em Portugal sobre segurança jurídica e segurança de Estado. Nele eu pergunto até que ponto a mídia não influencia o Judiciário, o delegado de polícia e o promotor? O caso da Escola Base é um exemplo. Os donos da escola foram execrados e a família foi destruída”.

Ao final da entrevista, Pereira falou do avanço do PRB em todo Brasil, saltando de oito para 21 deputados federais, e ressaltou que sua maior preocupação não reside nos números, mas na qualidade das pessoas que integram o partido. “Uma jornalista do Estadão me perguntou: você não tem medo de aparecer um nome do PRB na lista do ‘Petrolão’? Eu disse: não terá. E não teve. E se tivesse, tomaríamos as devidas providências para afastá-lo’”.

Diego Polachini e Marina Escarminio – Comunicação – Presidência Nacional